quinta-feira, 24 de março de 2016

REVISTA BRITÂNICA "THE ECONOMIST" PEDE RENÚNCIA DE DILMA

Em reportagem mais incisiva contra o governo até hoje, revista diz que a presidente perdeu toda a credibilidade ao nomear Lula ministro e deve renunciar antes que seja expulsa do Planalto


‘Economist’ pede a renúncia de Dilma
Saída de Dilma não resolveria tudo, mas daria ao Brasil a chance de um novo recomeço, diz 'Economist' (Foto: Agência Brasil)


O semanário inglês Economist traz uma reportagem de cunho editorial nesta quarta-feira, 23, em que defende abertamente a renúncia da presidente Dilma Rousseff. A revista, que até então apontara para a legitimidade da reeleição da petista em 2014 como o melhor argumento que a presidente poderia usar para se manter no poder,  disse que a manobra do dia 16 de março, através da qual Dilma nomeou o ex-presidente Lula para livrá-lo da prisão e de ser investigado pelo juiz Sergio Moro, da Lava Jato, acabou com qualquer resquício de credibilidade que restava ao atual governo.
“Este jornal tem argumentado há tempos que apenas o sistema judiciário ou os eleitores — não políticos buscando o impeachment por interesses próprios – deveriam decidir o destino da presidente. Mas a nomeação de Lula parece uma tentativa grosseira de impedir o curso da justiça. Mesmo se essa não fosse a sua intenção, seria o efeito da sua decisão. Este foi o momento em que a presidente colocou os interesses políticos da sua tribo acima do Estado de direito. Ela desabilitou-se para continuar a ser presidente”, diz a reportagem.
A revista vê três formas legítimas para tirar Dilma do Planalto, entre as quais ela não inclui o processo de impeachment que tramita no Congresso atualmente. Para a Economist, o atual processo de impeachment é improvável e infundado, porque se baseia em denúncias até hoje sem provas concretas de que Dilma teria usado pedaladas fiscais e truques contábeis para esconder o verdadeiro tamanho do rombo no orçamento em 2015.
“A ideia, levantada pelo chefe do comitê de impeachment, de que os congressistas deliberando o destino da Sra. Rousseff irão ‘ouvir o clamor das ruas’ criaria um precedente perigoso”, diz a revista. “Democracias representativas não deveriam ser governadas por protestos ou por pesquisas de opinião”.
Economist sugere que as alegações do ex-senador petista Delcídio do Amaral de que Dilma tentou obstruir as investigações da Lava-Jato, ou a recente tentativa da presidente de blindar Lula podem formar as bases de um novo processo de impeachment. Uma segunda opção seria o Tribunal Superior Eleitoral convocar novas eleições presidenciais, caso determine que a reeleição da presidente em 2014 fora financiada com dinheiro de propina da Petrobras. Esses processos, no entanto, seriam demorados. “A melhor e mais fácil maneira para Dilma sair do Planato é ela renunciar antes de ser expulsa”, diz a revista.
Longe do fim da crise 
A saída da presidente daria ao Brasil a chance de um novo recomeço, mas não resolveria os problemas inerentes da política, lembra a Economist. O PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, está tão envolvido no escândalo da Petrobras quanto o PT e, além disso, dos 594 membros do Congresso, 352 enfrentam acusações criminais.
Nem o judiciário brasileiro foi poupado de críticas pela revista, embora ela elogie sua iniciativa em investigar a fundo alguns dos maiores empresários e políticos do país. Para a Economist, no entanto, alguns juízes estão minando a credibilidade do judiciário ao desconsiderar normas legais. A revista cita como exemplo a decisão do juiz Sergio Moro de divulgar à imprensa o conteúdo de grampos telefônicos entre Lula e a presidente Dilma, algo que a maioria dos juristas acredita que só a Suprema Corte teria autorização para fazer, já que Dilma tem foro privilegiado. “Isso não justifica as alegações de simpatizantes do governo de que os juízes estão orquestrando um “golpe”, diz a revista. “Mas criou uma forma fácil para os suspeitos da Lava-Jato desviarem a atenção de seus próprios erros para os erros de seus perseguidores”.
Para a Economist, a rixa partidária e a batalha entre personalidades fortes (Lula X Moro, Dima X Cunha etc.) obscurece algumas das lições mais importantes da atual crise: tanto o escândalo da Petrobras como a crise econômica têm suas origens nas leis e práticas retrógradas do país. Tirar o Brasil do caos requer amplas reformas: o controle da despesa pública, incluindo a previdência, reformas das leis fiscais e trabalhistas e do sistema político, que fomenta a corrupção e enfraquece partidos.
“Estas [reformas] não podem mais ser adiadas. Aqueles bradando ‘Fora Dilma!’ nas ruas irão declarar vitória se ela for derrubada.  Mas este seria apenas o primeiro passo para o Brasil sair ganhando”.

Fonte : Opinião e Notícias

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